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Angelo Oswaldo de Araújo Santos [1]

Sempre se disse que a principal peça de um museu é a edificação que o abriga. A afirmativa torna evidente a importância da sede do museu na paisagem cultural em que se insere, pelo impacto visual resultante de sua presença. Depreende-se, de igual modo, que os volumes arquitetônicos mais significativos são aqueles que naturalmente se vocacionam para a missão museológica. No contexto de parques e jardins, praças e esplanadas, no cume de elevações orográficas ou no fundo de vales, o edifício do museu assinala a relevância da arquitetura e do paisagismo, ao tempo em que museus a céu aberto, os chamados ecomuseus, incorporam o espaço territorial e a paisagem como componentes vivos de seu acervo e de sua comunicação.

Aloísio Magalhães, quando dirigiu o IPHAN, no final da década de 1970, antecipou o reconhecimento dos ecomuseus, ao apoiar a implantação de iniciativa do gênero no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, em sintonia com a memória da imigração alemã. Em Ouro Preto, tanto a antiga casa de Câmara e Cadeia, palácio projetado pelo governador Cunha Menezes, em 1784, e sede do Museu da Inconfidência desde 1944, constitui-se em síntese e símbolo da paisagem cultural, quanto o Parque Ecológico das Ruínas do Morro da Queimada é expressão museológica da primitiva Vila Rica e dos primórdios do ciclo do ouro. Hughes de Varine considera o projeto do Morro da Queimada um dos mais significativos ecomuseus em implantação na atualidade.

O conjunto arquitetônico de Biri-biri, em Diamantina, tombado pelo IEPHA/MG, representa um vilarejo surgido no século XIX no entorno de uma obra social e fábrica de tecidos criados pela diocese. Arquitetura e paisagem dialogam em singular colóquio cultural, no contexto de um ecomuseu. Petrópolis, RJ, é cidade nascida à volta de um edifício desde logo destinado à função museal. A residência de veraneio do imperador Pedro II deu origem ao empreendimento urbano e prenunciou o museu só implantado cerca de meio século após a queda da monarquia, mas aguardado pela cidade que hoje se ressente, profundamente, quando ocorrem eventuais suspensões da visitação. Na paisagem petropolitana, o Museu Imperial supera os cumes montanhosos que o cercam e demarca o território.

O Museu Casa de Guimarães Rosa, em Cordisburgo, recolhe toda a paisagem do grande sertão para aconchegá-la na venda/vivenda do pai do escritor, espaço mágico de sua infância sertaneja. Texto e contexto se fundem como o museu no seu entorno.

Inhotim, no município de Brumadinho, é um parque botânico no qual jardins autorais convivem com obras de arte e pavilhões que abrigam instalações de artistas brasileiros e internacionais. Arte e natureza, museu e paisagem têm ali uma referência que atrai o interesse de todas as partes do mundo. Em Belo Horizonte, o Museu de Arte da Pampulha, na orla da lagoa, é uma das mais belas criações do primeiro Niemeyer. Integra-se não só ao conjunto arquitetônico por ele concebido no início dos anos 40 como baliza a paisagem do território Pampulha e da cidade de Belo Horizonte, da qual se tornou um ícone. O Museu Mariano Procópio, palacete do mecenas oitocentista e anexos, dentro do parque atribuído a Glaziou e elogiado por Agassiz, em Juiz de Fora, opera a mesma simbiose, ao interagir na paisagem cultural e referenciar a cidade.

No Rio de Janeiro, “paisagem cultural da humanidade”, conforme inscrição da Unesco, não só cidade e paisagem se fundem na mesma expressão de cultura, como dentro dessa cidade-paisagem os museus projetam-se de maneira proeminente, assinalando volumes tão significativos quanto aqueles com que a natureza distinguiu o cenário do Rio. O Museu do Amanhã, o MAR, o Museu da Marinha, o Paço Imperial, o Museu Histórico Nacional, o MAM e o Museu da Imagem e do Som pontuam a paisagem física, na qual se instalam como signos da paisagem carioca. Em Porto Alegre, o Museu Iberê Camargo é um abraço museal ao Guaíba, resultando em esplêndida integração do volume arquitetônico na paisagem cultural da capital gaúcha.

Estes exemplos, entre inúmeros outros, evidenciam como museu e paisagem se associam e se completam. Chamam a atenção no sentido de que todo museu possa pensar a paisagem na qual se situa e ampliar a comunicação cultural. Espera-se que o tema do 18 de maio de 2016 proporcione intensa e rica reflexão sobre o tema.

[1] Angelo Oswaldo de Araújo Santos é secretário de Estado de Cultura de Minas Gerais, tendo sido presidente do IBRAM e do IPHAN e prefeito de Ouro Preto.

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