Ivo Porto de Menezes [1]
Visitamos um conjunto urbano, especial pela sua qualidade, para usufruir a beleza de sua paisagem, de seu entorno. Visitamos um conjunto urbano para sentir suas características, as edificações que o compõem, o avançar do tempo nas edificações, mutantes a gosto do evoluir da arquitetura e da arte, sua preservação, sua decadência ou sua vida. São muitos os motivos a serem observados e analisados.
Buscamos orientações, sugestões de normas consagradas como a Carta de Atenas, de Veneza e as que se seguiram, as orientações do patrimônio histórico ou artístico, dos entendidos ou dos estudiosos, sobretudo a orientação natural de seus moradores, de suas vidas, de seus desejos.
Eis Ouro Preto em sua vida, o interior de seu conjunto ou no jogo de seu entorno.
1 - Praça Tiradentes esquina rua Direita | 2 - Entorno - Itacolomi
Ruas são abertas, morro acima ou abaixo ao sabor das necessidades. Não se vê preocupação de sua inserção no conjunto.
3 -Morro do Gambá | 4a e 4b - Santa Efigênia, Interferências na paisagem
Mais adiante iremos sentir o evoluir da Vila ou Cidade, nos edifícios mais chamativos, que, ao longo de sua vida, foram reformados ou substituídos de acordo com a vivência de seus autores ou de seus proprietários.
Os edifícios públicos ou particulares são numerosamente acrescentados, ora plantados em locais especialmente escolhidos como o entorno do principal espaço do conjunto ou jogados aqui e ali, aparentemente sem maior escolha.
5 - Palácio da Encardideira, 1720, ruínas. | 6 - Palácio Governadores
Nem sempre isto é verdade: a Matriz de Antônio Dias paisagisticamente se envolve em jardins com sua fonte, a ponte, o largo e o chafariz. As Capelas buscam locais em que se alteiam nas partes livres do conjunto urbano.
7 - As Capelas alteadas. | 8 – Matriz, Praça, Ponte, Largo, Chafariz
Os edifícios residenciais, unidos em longas sequências, obedecem às leis Filipinas, mas ao sabor dos moradores e arquitetos. Eles mesmo mostram faces diferentes ao sabor do tempo decorrente. Mas cabe aqui lembrar que a provável mudança da capital do Estado, de Ouro Preto para Belo Horizonte, sugere a modificação de inúmeras edificações novas ou de aspecto apenas diferenciadas em suas fachadas.
9 – XVIII, XIX e agora XX. | 10 - Ecletismo presente
11 – Rua Santa Efigênia | 12 - Casa de Tiradentes | 13 - Rua de S; José
Surge a preocupação com a preservação do conjunto e das edificações, ameaçados pela mudança da capital ou pelo tombamento de 1938. Adoção de novos modelos e normas, para tentar segurar ali a capital ou pela reafirmação de uma cidade viva a exigir cuidados. Paralelamente a cidade recebe industrias que estão a exigir novas edificações, novos loteamentos e principalmente novas residências. A arquitetura do passado devia ser respeitada mas acolher a nova arquitetura desde que de especial qualidade.
A cidade revive pela necessidade, ansiosa pelo crescimento que se faz necessário.
Somente bem mais tarde, vem de Portugal, enviado pela UNESCO, a pedido do PHAN, o arquiteto Dr. Viana de Lima a estudar cuidadosamente e tentar, através de um plano diretor, conciliar crescimento e preservação. A Fundação João Pinheiro, pela atribuição que lhe conferiu o Dr. Abílio Machado Filho, Secretário do Governo do Estado, atualiza e modifica, tentando novas soluções, bem como outros trabalhos elaborados por diversos arquitetos.
14 - Século XVIII | 15 - Ecletismo | 16 - Moderno
Um sentimento deve, portanto, presidir nosso percorrer do conjunto. Um saudosismo seguro aberto às transformações ocorridas, admirando também a evolução da cidade e de sua arquitetura, sensibilidade para a necessidade viva de seus moradores, nem sempre conhecedores do passado da cidade, dos avanços alcançados, dos erros naturalmente ocorridos, mas de todo um amor, acrescido de tentativas de dar aos habitantes o necessário conforto.
[1] Professor Emérito da Escola de Arquitetura da UFMG.
Prof. Dr. da Escola de Minas da UFOP.
Professor de Bens Culturais da Igreja e Arte Sacra.
Créditos das fotos
- 1 - Acervo: Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Exposição “Ouro Preto – 300 anos” – Museu da Inconfidência. Foto: Ivo Porto de Menezes.
- 2 - Foto: Autor ignorado. Acervo: Ivo Porto de Menezes.
- 3 - Foto: Ivo Porto de Menezes. Acervo: Ivo Porto de Menezes.
- 4 – Foto: Autor ignorado. Foto: Ivo Porto de Menezes. Acervo: Ivo Porto de Menezes.
- 5 - Foto: Ivo Porto de Menezes. Acervo: Ivo Porto de Menezes.
- 6 - Liebeneau, in Gilberto Freire, A fotografia no Brasil.
- 7 - Foto: Autor ignorado. Acervo: Ivo Porto de Menezes
- 8 - Liebeneau, in Gilberto Freire, A fotografia no Brasil.
- 9 - Foto: Autor ignorado. Acervo: Ivo Porto de Menezes
- 10 – Foto: Autor ignorado. Acervo: Ivo Porto de Menezes
- 11 - Foto: Ivo Porto de Menezes. Acervo: Ivo Porto de Menezes.
- 12- Mattos, Aníbal, Monumentos Históricos, Artísticos e Religiosos de M. Gerais, Ed. Apollo, Belo Horizonte, 1935.
- 13 - Liebeneau, in Gilberto Freire, A fotografia no Brasil
- 14 - Foto: Ivo Porto de Menezes. Acervo: Ivo Porto de Menezes.
- 15 - Foto: Ivo Porto de Menezes. Acervo: Ivo Porto de Menezes.
- 16 - Foto: Autor ignorado. Acervo: Ivo Porto de Menezes.