Tema da 24a Conferência Geral do ICOM, a se realizar em Milão, 
de 3 a 9 de julho de 2016

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Maria Ignez Mantovani Franco [1]

Anualmente o ICOM apresenta um tema inspirador a ser desenvolvido e discutido por profissionais e instituições museológicas de todo o mundo. Cada um desses temas é também o mote de sentido para os seminários e conferências que são organizados pelos Comitês Nacionais e Internacionais do ICOM, e, a cada triênio, para suas Conferências Gerais.

No dia 7 de julho de 2014, o ICOM mobilizou-se para discutir, numa pré-conferência realizada em Siena, na Itália, o tema de sua próxima Conferência Geral, que será realizada em Milão, em julho deste ano. Mais de 250 profissionais de museus de diferentes continentes participaram desse evento e trouxeram suas reflexões a respeito do tema central.

O documento Carta de Siena, que apresenta a perspectiva proposta pela Itália, foi amplamente discutido pelos participantes, com a intenção de que seja aprovado em Milão como uma Declaração do ICOM sobre Museus e Paisagens Culturais. Na ocasião, foi indicado que, ao longo de 2015, os Comitês Nacionais e Internacionais do ICOM, bem como as Alianças Regionais e as Organizações Afiliadas, se debruçassem a estudar e discutir o tema geral, comparando visões, experiências e contextos legais, além de propor novas ideias e visões a respeito do patrimônio e de seus respectivos contextos plurais.

Exponho aqui, para compartilhar com os prezados leitores, alguns pontos relevantes extraídos do documento preliminar da Carta de Siena, de 7 de julho de 2014.

O tema Museus e Paisagens Culturais – extremamente instigante – chega a 2016 impulsionado pelas questões internacionais que se agravam a cada dia, compelindo os museus a enfrentarem condições sociais, político-institucionais, de direitos e de segurança internacional sem precedentes. Consideram-se aqui as grandes crises migratórias mundiais, as ocorrências de atentados terroristas gravíssimos em diferentes continentes e países, as ameaças ao patrimônio natural e cultural que vivenciamos em diversos pontos do mundo, ou seja, os museus dialogam hoje, em tempo real, com diferentes e complexos cenários de crise.

Para julho de 2016, portanto, o tema geral da Conferência de Milão – que deverá atrair mais de 4 mil profissionais de museus de todo o mundo – e os tópicos principais da discussão estarão certamente pautados nos quatro pontos cruciais que constam da Carta de Siena:

1. A percepção de que a paisagem difere de um país para outro e se conecta a diferentes contextos culturais. Em algumas línguas, nem mesmo existe o termo "paisagem". Nesse sentido, o ICOM respeita a diversidade cultural e promove um entendimento abrangente da paisagem. "Paisagem" é, portanto, um conceito multifacetado, que agrega dimensões antropológicas, sociais, econômicas e culturais à circunscrição física, natural e geográfica. Paisagens são parte do patrimônio cultural e natural a ser preservado, interpretado e cuidado, nos seus aspectos tangíveis e intangíveis.

2. O ICOM deseja ressaltar a nova função social e territorial dos museus. Como os museus podem assumir a responsabilidade pelo patrimônio cultural e natural e garantir a sua preservação, assim como o conhecimento e a comunicação acerca desse patrimônio? Como os museus podem se transformar em centros de interpretação para locais e comunidades aos quais eles pertencem? Como os museus podem disseminar conhecimento a respeito do patrimônio? Os museus podem ser ativos na preservação não apenas de suas coleções, mas também do tangível e do intangível, do patrimônio cultural e natural que os circunda. As competências e os recursos necessários para desempenhar esse papel devem ser analisados.

3. As relações entre museus e paisagens culturais oferecem a oportunidade de desenvolver novas parcerias e redes de relacionamentos, e de ativar novas abordagens interdisciplinares. Como podemos promover efetiva colaboração entre museus, profissionais, organizações ou instituições?

4. Como os museus podem colaborar para que planejadores e políticos possam promover o desenvolvimento sustentável e a preservação da paisagem, enquanto incrementam o turismo, sem, no entanto, colocar em risco o patrimônio cultural e natural?

Enfim, a Carta de Siena é um ponto de partida, um impulso estabelecido pelo ICOM para que os museus de todo o mundo possam apresentar, agora em Milão, ideias e ações inovadoras que surjam de diferentes países e culturas, capazes de colaborar para um novo tempo em que o patrimônio cultural e natural seja alvo de respeito, proteção e divulgação. Por outro lado, fica evidente que os museus, enquanto centros de interpretação atuantes nesses diferentes contextos, têm a responsabilidade de se relacionar de forma sustentável e contundente com as comunidades e os territórios em que se situam.

Esse tema – Museus e Paisagens Culturais – é um ponto central, estratégico e de inflexão para todos os museus do mundo, no terceiro milênio. Ele apresenta uma oportunidade para que os museus revisem sua visão e sua missão, assumindo assim sua ampla e determinante função social.

[1] Presidente do ICOM Brasil.

NOTA: Dados extraídos do documento “Siena International Conference”, disponível em: http://network.icom.museum/icom-milan-2016/icom-icom-italy/siena-international-conference/, acesso em 9/5/2016.

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