Dia Internacional de Museus 2017

Adriana Mortara Almeida [1]

O tema do Dia Internacional de Museus proposto pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM) tem um foco acentuado no passado. No texto de divulgação são repetidas as ideias de “passado doloroso” e “histórias traumáticas passadas” que baseiam o papel dos museus em sua retomada e/ou divulgação. [http://network.icom.museum/fileadmin/user_upload/pdf/imd/2017/press_release_DIM2017_ESP.pdf]

Gostaria de pensar o tema em relação ao presente e ao futuro. Ou seja, quais as situações dolorosas atuais que precisamos ou devemos preservar? O que estamos registrando e/ou guardando de hoje para o futuro? 

Quantas vezes já pensamos no nosso cotidiano “melhor esquecer isso”, “melhor apagar isso que aconteceu”?

As “histórias controversas” de hoje estão sendo documentadas, registradas? Será que haverá testemunhos materiais e imateriais suficientes para a construção do tempo de hoje no futuro? Vivenciamos situações nas quais pessoas podem determinar a continuidade (ou descontinuidade) de um projeto, de uma atividade, de uma pesquisa. Como registrar as continuidades e as descontinuidades?

No trabalho cotidiano no Museu Histórico do Instituto Butantan, atuamos pela preservação do patrimônio da instituição já sob nossa responsabilidade, mas também nos deparamos com o desafio de selecionar o que preservar dos dias atuais ou mais recentes. Instrumentos científicos e equipamentos utilizados em laboratórios e outros espaços de trabalho do Butantan se tornam obsoletos mais rapidamente do que no passado. No século XX, um microscópio ótico era utilizado por mais de três décadas e mesmo um microscópio eletrônico, como o que está em exposição no Museu Histórico, foi utilizado por 30 anos.

Os equipamentos e instrumentos científicos mais recentes são utilizados por muito menos tempo, gerando uma quantidade enorme de potencial patrimônio histórico institucional a ser salvaguardado. E o que devemos preservar? Aqueles que são ligados às descobertas mais importantes dos cientistas do Butantan? Aqueles que são mais utilizados por todos no cotidiano? Além da responsabilidade das escolhas, há a questão de espaço adequado para a salvaguarda do acervo.

Certamente essas questões perpassam todos os tipos de museus e envolvem a história que desejamos registrar e construir a partir da cultura material salvaguardada nos museus. No caso da ciência, é recorrente a presença em exposições e acervos de testemunhos dos ‘sucessos’ e ‘avanços’ científicos, deixando uma lacuna no que diz respeito aos insucessos, tentativas fracassadas ou mesmo o processo cotidiano e longo para chegar à inovação. Ainda é muito difícil tratar das perdas, dos problemas e dificuldades enfrentadas pelos cientistas em nossas exposições e nas coleções preservadas.

O tema do dia internacional de museus nos provoca no sentido de atentarmos hoje ao registro e salvaguarda dos testemunhos materiais e imateriais das histórias controversas.

[1] Adriana Mortara Almeida é historiadora, mestre e doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Fez pós-doutorado em Museologia na UNICAMP, no Departamento de Geologia. Trabalhou como educadora do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP por nove anos. Realizou consultorias em diversos museus de São Paulo. Desde outubro de 2010 é diretora do Museu Histórico do Instituto Butantan. Atua no campo da educação, estudos de público e avaliação em museus e instituições culturais. É vice-presidente do Comitê Brasileiro do ICOM (2015-2018).

 

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