Angelo Oswaldo [1]
A data internacionalmente consagrada aos museus celebra-se, neste ano bicentenário da independência brasileira, com a alegria da reabertura da maioria dos museus, após as duras e demoradas restrições da pandemia. A tragédia do Museu Nacional, sucedâneo do primeiro criado entre nós e sede primaz do governo imperial, foi completada pelas adversidades do drama pandêmico. Reparar as perdas e as lacunas, reverter os danos e confirmar perspectivas promissoras constituem tarefa que demanda energia redobrada e firme comprometimento com as metas. A cultura brasileira padece terrivelmente, nesta quadra, e é em meio a tantas vicissitudes e obstáculos que os museus retomam a missão que lhes cabe no contexto cultural, que é também o da educação, da ciência, da tecnologia, do meio ambiente, do esporte e do turismo, tamanhas as dimensões do campo museal. Quem enfrenta a crise dos museus, sabe que precisamos vencer a crise da cultura, na qual nos debatemos todos na grande crise nacional.
Em Ouro Preto, fatos auspiciosos trazem bons augúrios e demonstram o poder dos museus. A abertura do Museu Boulieu e a obra do Aleijadinho destinada ao Museu da Inconfidência são motivo de renovado entusiasmo para o primeiro município a criar um sistema próprio de museus no país. Foi no dia 13 de abril que oficialmente se inaugurou, em prédio integrante do conjunto arquitetônico da antiga Santa Casa, denominado Paço da Misericórdia, o museu resultante do acervo formado pelo casal Maria Helena e Jacques Boulieu, ao longo de seis décadas de colecionismo. Agora, na Semana dos Museus, instala-se na Sala do Aleijadinho a peça que o mestreAntônio Francisco Lisboa entalhou para o coro da monumental Capela de Nossa Senhora da Conceição da Jaguara (Matosinhos, MG) e doada ao Inconfidência pela colecionadora Beatriz Pimenta Camargo, em entendimento com o Ministério Público do Estado de Minas Gerais. Cabe acrescentar que, ainda este ano, renascerá o Museu Aleijadinho, após a conclusão do restauro dos elementos artísticos do Santuário de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias, para o que o pároco e presidente do Museu, padre Edmar Silva, já toma as providências pertinentes.
Acompanhei, desde os seus primeiros momentos, a criação do Museu Boulieu. Ouro Preto ganha, no coração da cidade, uma síntese da diáspora do barroco ibérico, o que tanto enriquece o conhecimento quanto aguça a sensibilidade do público diante das características genuínas que a arte ouro-pretana lhe permite fruir. Do ponto de vista museológico, é uma iniciativa exemplar, que valoriza o diálogo entre o acervo e o olhar atento dos visitantes. Por outro lado, recebi de Beatriz Pimenta Camargo o pedido de indicação do local ao qual ela destinaria o Anjo da Jaguara, e foi com forte emoção que promovi o ajuste com o MPMG de modo a trazer para o Museu da Inconfidência essa obra singular, na qual o Aleijadinho inscreveu o nome do criador do Vínculo da Jaguara, o potentado Antonio de Abreu Guimaraens. O diretor Alex Calheiros instalou a bela talha e com ela assinala o renascimento do Inconfidência.
O universo museológico é dinâmico. A nova unidade inaugurada em Ouro Preto, a peça notável incorporada ao Inconfidência e a recomposição do Museu Aleijadinho evidenciam, no sistema municipal, conquistas e avanços. As ações educativas do Museu do Oratório, nas quais se inclui o Coral Canto Crescente, reunindo jovens da cidade, o empenho da Escola de Minas e da UFOP na restauração do conjunto arquitetônico do Palácio dos Governadores/Museu de Ciência e Técnica, o novo Museu das Reduções em Cachoeira do Campo e iniciativas marcantes da Prefeitura no Museu Casa dos Inconfidentes e na Casa Bandeirista de Amarantina são a prova da força dos museus na vida cultural e socioeconômica e da relevância de sua contribuição.
[1] Angelo Oswaldo de Araújo Santos é prefeito de Ouro Preto e ex-presidente do IBRAM e do IPHAN.
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