CAVALCANTI, Amanda Thomaz; PINHEIRO, Thaís Mayumi; MACHADO, Guilherme de Almeida; KELLNER, Alexander W.A; BIENE, Maria Paula Van. [i]
O Museu Nacional/UFRJ vem trabalhando intensamente na reelaboração de suas exposições de longa duração desde setembro de 2018, após o incêndio que atingiu o Palácio de São Cristóvão. Este é um esforço fruto da colaboração entre todas as áreas do conhecimento da instituição, envolvendo dezenas de profissionais, desde museólogos do museu, até consultores da UNESCO. Importante ressaltar que desde o Seminário Franco-Brasileiro de 1995, foi estabelecido a transferência das coleções para edificações anexas e que haveria um esforço em tornar o espaço do palácio em uma área expositiva, enfocando a história natural e a antropologia, ao mesmo tempo que não se perderia a vertente histórica, tão cara para a instituição.
Como resultado de amplas discussões internas que se sucederam tanto no contexto pré-pandêmico como, nos últimos dois anos, a partir de novas metodologias de trabalho remoto, foram definidos quatro circuitos expositivos. Eles estarão distribuídos por 5.500 m² do Palácio de São Cristóvão, edifício sede do museu, que está sendo restaurado e que será agora inteiramente dedicado as atividades com os públicos. Estão previstos 10.000 exemplares que serão expostos distribuídos pelos circuitos, contemplando acervos de arqueologia, antropologia biológica, etnologia, linguística, botânica, zoologia, geologia, paleontologia, além de objetos históricos, documentais, artísticos e didáticos.
Os circuitos, em conjunto, apresentarão “Um mundo a descobrir”: um espaço para viajar pela curiosidade humana, que faz com que estejamos sempre buscando interpretar nossa realidade, conhecer melhor a nós mesmos, os outros e o mundo em que vivemos. Neles os visitantes serão convidados a refletir sobre os diferentes meios e métodos com os quais podemos olhar para a diversidade e complexidade da vida, entendendo que o nosso mundo se transforma o tempo todo a partir da interação das diferentes formas de viver e conviver. Graças a toda esta complexidade da vida existente no mundo, das suas relações e transformações, sempre temos novas questões a nos indagar e descobertas a realizar.
Os quatro circuitos expositivos:
Nosso percurso de descobertas tem início no Circuito Histórico, que visa apresentar aos visitantes “Que museu é esse?” e “Qual o papel dele para o nosso país?”. Vamos refletir sobre a história do Museu Nacional, como museu e instituição de pesquisa e ensino, e a história da produção científica que é feita, desde a sua criação, em 1818, até hoje. Com isso vamos conhecer a própria história da ciência no Brasil e também do Palácio de São Cristóvão [1], desde que era casa da Monarquia até virar Casa da Ciência. Sempre destacando que ainda durante o império, o palácio, mesmo antes de abrigar o Museu Nacional, possuía diversos objetos de história natural e antropologia, do que veio a ser chamado de o Museu do Imperador, com referência as coleções de D. Pedro II.
Seguindo o percurso de descobertas, vamos para o Circuito Universo e Vida, que apresenta “A Terra, um planeta especial”. Um planeta que desenvolveu características únicas que levaram a uma fascinante diversidade. Através do olhar da ciência, vamos desbravar como as relações entre o tempo, os ambientes e os diferentes organismos nos ajudam a entender a evolução do planeta e da vida encontrada nele, inclusive dos seres humanos, e vamos refletir sobre o mundo e o nosso papel nele, questionando de onde viemos e para onde vamos.
Nosso percurso continua pelo Circuito de Diversidade Cultural, onde vamos mergulhar sobre questões relativas à humanidade. Vamos refletir sobre diferentes formas de ser e estar no mundo, resultantes de processos culturais identificados em temporalidades distintas entre grupos sociais de diversas regiões do planeta. Tais processos são indicativos da mobilidade humana, das dinâmicas de criação, transformações culturais e das interações sociais que contribuem para a diversidade cultural e linguística existente. Apresentamos trajetórias de alguns dos diferentes grupos humanos, seu poder inventivo e transformador que impacta, constrói e materializa a realidade.
Por fim, o Circuito Ambientes do Brasil, onde vamos percorrer “uma viagem, por muitos Brasis”. Convidaremos o público a refletir sobre a complexidade das dinâmicas da vida no nosso país e os desafios do nosso presente para pensarmos nosso futuro. Assim, a partir de um percurso por diferentes ambientes do Brasil, vamos apresentar de maneira integrada os elementos da diversidade geológica, ecológica, das interações entre as espécies e a multiplicidade das sociedades e culturas humanas. Serão propostas diversas questões ao visitante-viajante para instigar a empatia e a reflexão sobre a diversidade e riqueza das interações entre ambientes e modos de vida.
O poder das exposições:
Ao enfrentar um projeto de renovação expositiva de tamanha complexidade, refletir sobre o poder dos museus em nossa sociedade contemporânea é essencial. Afinal, como conceber uma exposição verdadeiramente relevante na atualidade; que tenha ressonância nas comunidades; que sirva para divertir e inspirar, mas também sirva para o desenvolvimento de um senso crítico?
Pensar sobre o poder dos museus, neste contexto, é um exercício de pensar o poder de suas exposições. Nessa reflexão, percebemos essa forma da comunicação em museus como uma instância política, legitimadora dos agentes e discursos nela apresentados, e de educação, sendo uma experiência potencialmente transformadora para aqueles que a visitam. Em ambos os aspectos, é na relação com seus públicos que a exposição poderá exercer o seu poder de forma plena. Este é um desafio diário, que deve ser construído atenta e incansavelmente nas diferentes ações de nossas instituições. Nesse sentido, ampliar e acolher os diferentes públicos é algo essencial, por isso a acessibilidade universal está sendo pensada desde o momento da concepção da nova exposição.
Atualmente no Museu Nacional/UFRJ algumas iniciativas vêm sendo realizadas para a criação e/ou consolidação de iniciativas de parceria com diversos segmentos da sociedade. No estágio atual do desenvolvimento de suas futuras exposições, destacamos o trabalho de escuta das comunidades que serão apresentadas nos diferentes circuitos do museu. Esta ação vem sendo realizada a partir de reuniões e outras formas de comunicação para definição de temas e acervos. O intuito é que, a partir de metodologias colaborativas, o conteúdo expositivo possa refletir demandas desses grupos, utilizando o poder legitimador do museu para colocar pautas que sejam verdadeiramente relevantes para eles, permitindo que o discurso do museu seja um discurso mais polifônico e inclusivo.
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[1] O Paço de São Cristóvão é considerado patrimônio arquitetônico nacional, tombado pelo IPHAN em 1938. Localizado na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, o imóvel foi residência da Família Real/Imperial de 1808 a 1889 e desde 1892 é a sede principal do Museu Nacional - antes instalado no centro da cidade. As equipes do Museu Nacional percebiam uma demanda dos públicos por mais informações históricas sobre o edifício nas exposições.
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