André Sturm [1]
Os museus são instituições conhecidas pelo papel fundamental na preservação do patrimônio artístico, histórico e cultural das sociedades. Como espaço cultural, pode e deve ir além deste papel original, com atividades significativas para a promoção da Cultura e, com isso, da sustentabilidade e do bem-estar da população.
O que escrevo acima vale para qualquer momento. Mas, depois de dois anos de pandemia, com medo, sofrimento e confinamento, as pessoas precisam de válvulas de escape. Nada melhor do que a fruição de atividades culturais. Apenas sair de casa com um objetivo não profissional já cumpre esse processo. Um museu vivo, onde se pode encontrar pessoas, arte e atividades vibrantes é fundamental para esse processo de bem-estar psicológico.
Momentos de lazer e descontração ajudam a reduzir o estresse e a ansiedade em uma sociedade que se vê cada vez mais acelerada e voltada às atividades utilitárias.
O Museu da Imagem e do Som (MIS), ligado à Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo, é um exemplo de instituição que tem se dedicado incessantemente em medidas neste sentido, em especial no que se refere à saúde mental dos visitantes e da comunidade em que está inserido. O MIS realiza atividades educativas e culturais voltadas para o público em geral, como exposições em que o visitante pode mergulhar no tema proposto, sessões de cinema (muitas delas seguidas de bate-papo), shows de artistas que estão despontando no cenário artístico independente, atividades para o público infantil e cursos práticos e teóricos nas áreas de fotografia, cinema, música, história da arte e escrita, entre outras.
Todas essas ações fazem do MIS um espaço que caminha junto com o espírito da contemporaneidade, que busca entender o tempo de uma maneira integrada, na qual passado, presente e futuro estão imiscuídos em prol de uma visão mais aberta de uma sociedade que se vê cada vez mais complexa. Partindo desse ponto de vista, a inclusão social e a diversidade cultural podem ser alcançadas de maneira mais espontânea e duradoura, já que a multiplicidade de ações e de visões sobre a sociedade está imbricada no dia a dia do Museu.
As ações educativas são outro ponto que destaco. Uma equipe preparada recebe os grupos de forma criativa para que a visita seja dinâmica e produtiva. Sem querer “ensinar”, e sim compartilhar. Com essa aproximação, os grupos tendem a aproveitar mais a visita, levando com eles aprendizado e conhecimento.
Vale citarmos três projetos específicos que apontam para essa preocupação em abarcar uma parcela ampla da sociedade, integrando ao máximo os diversos públicos: o Acessa MIS centra suas atividades na temática das exposições em cartaz e recebe pessoas com deficiência (Síndrome de Down, deficiência auditiva, deficiência visual etc.); o MIS Nova Idade acolhe a terceira idade, realizando visitas educativas e oficinas relacionadas às exposições em cartaz; já o Integra MIS é um projeto voltado para a população em vulnerabilidade social e promove visitas educativas e oficinas.
O MIS dedicou recursos financeiros e humanos para ser totalmente acessível para pessoas com deficiência ou com dificuldade de locomoção. Rampas e elevadores foram instalados e a equipe recebeu treinamento para bem receber estes visitantes. Pessoas que já possuem alguma dificuldade em suas vidas precisam se sentir acolhidas num espaço público, quando têm a oportunidade de visitá-lo. Diversas iniciativas para as demais questões de acessibilidade também foram implementadas, como recursos de leitura de textos, obras táteis e outros.
Assim, além de salvaguardar seu importante acervo, que conta com mais de 200 mil itens – boa parte deles disponíveis para consulta on-line –, o MIS sempre tem como foco oferecer uma programação que desperte o interesse e chegue aos mais diversos públicos, rompendo com uma visão que ainda permeia a sociedade de que museus são espaços pouco acolhedores e feitos apenas para uma pequena parcela entender e desfrutar de suas ações. Cada detalhe da programação e das exposições é pensado para despertar os sentidos, instigar as ideias e estimular o lado criativo de cada um. E essas são condições sinequa non para que a arte e a cultura de fato passem a fazer parte da vida das pessoas e lhes forneçam subsídios para uma vida permeada pelo bem-estar e pela liberdade e saúde psicológica.
[1] Diretor-geral do Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo.
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