Dia Internacional dos Museus 2023

Mariáh Martins [1] 
Maria Gabriela Evangelista [2] 
Alexander Wilhelm Armin Kellner [3] 

A efeméride do Dia Internacional de Museus promove nas instituições culturais e em seus participantes o orgulho pela dedicação à área tão singular para a formação humana na atualidade. No Brasil, a Semana Nacional de Museus impulsiona à reflexão, e à prática ao diálogo com o público. Para o Museu Nacional/UFRJ, além do movimento comum ao calendário anual que as datas se integram, nos faz lembrar que em breve teremos também mais um aniversário a ser comemorado. Assim, seguimos no embalo dos meses de maio e junho como importantes momentos de celebração externo e interno. [4] 

O Museu Nacional, primeiro museu do país, completa 205 anos em 06 de junho de 2023, e tem vivido os cinco anos mais complexos de sua história, após o incêndio que atingiu a sede em 2018 (KELLNER, 2019). A reconstrução é também reestruturação institucional, um repensar sobre as práticas, os temas e as abordagens que têm sido executados que, naturalmente, tem a sustentabilidade como ponto de destaque.

A vertente científica foi primordial desde a criação do Museu Nacional, dedicado para atuação em principais áreas do conhecimento: a Antropologia e as Ciências Naturais. Atualmente fazem parte das áreas de estudo a linguística, a arqueologia, a antropologia biológica, a antropologia social, a zoologia, a botânica, a geologia e a paleontologia, além de áreas vinculadas a essas como línguas indígenas.

As áreas de conhecimento às quais o Museu Nacional se dedica, considerando também sua atuação universitária, com diversos programas de pós-graduação, projetos de pesquisa, projetos de extensão, e cooperação técnico-científicas, determinam sua história ao desenvolvimento das questões de sustentabilidade cultural, social, econômica e ambiental.

Destaca-se forte atuação das pesquisas antropológicas, inclusive acerca de populações tradicionais e povos indígenas. O primeiro programa de pós-graduação em antropologia do Brasil foi criado no Museu Nacional, e completará 55 anos de existência em 2023. Apesar da sua importância, como os demais programas, padece pela falta de condições impostas pela perda de gabinetes de trabalho, salas de aula e laboratórios após o incêndio de 2018, ainda não recompostos apesar dos esforços da diretoria (KELLNER, 2022). Também se destaca o mestrado profissional em linguística e línguas indígenas que possui como público-alvo egressos de cursos indígenas. Estudos vêm propondo formas de reconhecimento social, atingindo inclusive as formas de constituição das coleções e de exposições, antes não acessadas pelos representados.

Os estudos das ciências naturais, nos diversos setores dedicados, atuam diretamente acerca da biodiversidade e ecologia. Pesquisas realizam o monitoramento de ecossistemas, refletindo como a vida humana e animal é afetada, incluindo o aquecimento global. Outros estudos desenvolvidos focam no mapeamento da vida de grupos zoológicos, contribuindo para a compreensão do funcionamento e evolução da biodiversidade no planeta. Análises da variação genética desenvolvidos refletem a pesquisas sobre doenças e a suscetibilidade das espécies a elas. Trabalhos como esses caracterizam o Museu Nacional como uma importante instituição atuante no tema da preservação e na proposição de relações mais sustentáveis entre o humano e a natureza (MUSEU NACIONAL, 2022).

A dinâmica institucional é fortemente marcada pelo conhecido tripé universitário: a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. A reconstrução do Museu Nacional foi iniciada com a ratificação, por parte da instituição, de que a ampliação institucional continuava sendo indispensável (MARTINS ET AL, 2018).

Infelizmente a tão sonhada área de ampliação e remanejamento de setores do Museu Nacional só pode ser concretizada após o trágico incêndio. Apesar das tristes marcas da tragédia a instituição conquistou um espaço adequado, amplo, próximo ao Paço de São Cristóvão e ao Horto Botânico, as outras áreas patrimoniais da instituição, e que permite desenvolver as ações e oferece esperança para um futuro promissor à instituição (Fig. 1).

Fig. 1 - Museu Nacional/UFRJ em 03 áreas: Paço de São Cristóvão (acima);  Campus de Pesquisa e Ensino (esquerda) e Horto Botânico (direita).Fig. 1 - Museu Nacional/UFRJ em 03 áreas: Paço de São Cristóvão (acima);
Campus de Pesquisa e Ensino (esquerda) e Horto Botânico (direita).

O Campus de Pesquisa e Ensino Museu Nacional/UFRJ (CPEMN) representa um dos aspectos fundamentais não apenas para a reconstrução institucional, mas, também, para a própria sobrevivência da primeira instituição científica do país ao possibilitar o desenvolvimento da infraestrutura de pesquisa e do ensino. Ademais, nesse espaço está sendo construído um centro de visitação destinado ao público escolar, tornado possível que estudantes possam ver parte das exposições do Museu antes mesmo da inauguração das mostras no Paço de São Cristóvão. O compromisso com a preservação do patrimônio permanece ativo e, além de ações emergenciais, promovidas para que a normalidade institucional se recompusesse, o Campus trouxe à comunidade do museu a possibilidade de realizar um novo e adequado planejamento.

Em meio a tantas ações foi priorizado o início dos estudos de novas edificações destinadas à guarda e pesquisa de coleções científicas. As novas edificações, seguras e sustentáveis, se destinarão à instalação de laboratórios e à preservação de coleções, sendo reservas técnicas de alta qualidade. Estão previstos alguns blocos que comporão dois complexos: o Laboratório de Manuseio de Coleções Líquidas (LMCL) e o Laboratório de Manuseio de Coleções Secas (LMCS). Atualmente a 1ª fase do LMCL se encontra em construção, por meio do apoio da FINEP/MCTI, sendo que a instituição permanece em busca de recursos para a complementação das obras desse espaço fundamental para as suas necessidades acadêmicas e de pesquisa.

As coleções científicas são formadas e tratadas por pesquisadores especialistas, configuram base de inúmeros trabalhos institucionais, dos funcionários, dos alunos, trabalhos acadêmicos e de extensão. Como objetos especiais as coleções científicas do Museu Nacional, organizadas pelas áreas de conhecimento da instituição, dão frutos para importantes trabalhos nos campos da biodiversidade, ecologia, conservação, preservação, inclusão, entre outros (SEREJO, 2020).

As melhores condições de preservação dos espécimes e materiais das coleções, assim como a adequação dos ambientes de estudo, contribuirão amplamente com todas as ações da instituição. As edificações são pensadas também para que ocorra visitação controlada, ampliando o conhecimento sobre o trabalho ali desenvolvido.

Se encontram em desenvolvimento estudos iniciais sobre o futuro do Campus, contemplando paisagismo, edificações para áreas de ensino, eventos e exposições (Fig. 2). Deseja-se um espaço que acolha o público em geral para a aproximação entre a instituição e a sociedade, com especial atenção aos estudos e práticas científicas, culturais e de ensino desenvolvidas.

Fig. 2 - Estudo preliminar para o Campus de Pesquisa e Ensino Museu Nacional/UFRJFig. 2 - Estudo preliminar para o Campus de Pesquisa e Ensino Museu Nacional/UFRJ

A área tem sido primordial para a continuidade imediata dos trabalhos após a tragédia. Algumas edificações modulares, de caráter temporário se encontram instaladas, como espaços para setores administrativos. Espaços para departamentos acadêmicos estão em fase de conclusão.

Destacamos desse conjunto a construção do centro de visitantes, Estação Museu Nacional, que será inaugurado em 06 de junho de 2023, com a primeira exposição da instituição no Campus. O espaço foi uma prioridade do Museu Nacional logo depois do incêndio e assim que o terreno do Campus foi assegurado, que considerou a necessidade de continuidade das atividades institucionais, principalmente das ações com o público, como as exposições. A Estação Museu Nacional será um novo espaço para recepção de grupos escolares, entre outros, que poderão conhecer mais das ações institucionais após o trágico incêndio (Fig. 3).

Fig. 3 - Identidade Visual da exposição inaugural da Estação Museu Nacional.Fig. 3 - Identidade Visual da exposição inaugural da Estação Museu Nacional.

O Museu Nacional tem atuado continuamente na divulgação das ações em andamento, desde obras de reconstrução até atividades acadêmicas, visando o acompanhamento e aproximação do público à instituição. Durante os últimos anos desenvolvemos exposições virtuais, sites de campanha, publicações, vídeos, além de outras ações. Atuamos nas redes sociais, inclusive com a parceria de influenciadores digitais. A divulgação das atividades e produções institucionais vem buscando o diálogo para que a sociedade possa acompanhar o amplo trabalho, visando a devolução o quanto antes do Museu Nacional, espaço de memória, conhecimento e acolhimento da sociedade brasileira. Apresentamos aqui mais uma dimensão da reconstrução do Museu Nacional, que possui em sua essência a pesquisa sobre os fenômenos humanos e sobre a natureza. Esperamos que o público possa conhecer um pouco mais das atividades da instituição e se motivar com as perspectivas transformadoras que a sociedade e suas instituições são capazes de alcançar.


[1]  Chefe de Gabinete da Direção do Museu Nacional/UFRJ, Doutora em História das Ciências/UFRJ, Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
[2] Coordenadora do Núcleo de Comunicação e Eventos do Museu Nacional/ UFRJ, Doutoranda em Memória Social/UNIRIO, Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
[3] Diretor do Museu Nacional/UFRJ, Doutor em Geociências - Paleontologia/Columbia University, Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
[4] https://www.gov.br/museus/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/semana-nacional-de-museus. Acesso em 01 de maio de 2023.


Referências

  • KELLNER, Alexander Wilhelm Armin. A reconstrução do Museu Nacional: bom para o Rio, bom para o Brasil, Revista Ciência e Cultura, 2019, volume 71, p.4-5.
  • KELLNER, Alexander Wilhelm Armin. Mensagem do Diretor. In: Museu Nacional - Relatório Anual de 2021. Museu Nacional, Relatórios, Rio de Janeiro, 2022: p. 6-11 (ISSN 0557-0689; https://www.museunacional.ufrj.br/destaques/docs/relatorio_anual_2021/relatorio_2021_ptbr.pdf).
  • MARTINS, Mariáh, NARA, João C., BIENE, Maria Paula. A caminho de nossa história: revitalização do patrimônio cultural no bicentenário do Museu Nacional. Anais do IX Seminário Internacional de Políticas Culturais. 15 a 18 de maio de 2018. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 2018.
  • MUSEU NACIONAL. Relatório Anual do Museu Nacional. Rio de Janeiro: Museu Nacional/UFRJ, 2021. Museu Nacional, Relatórios, Rio de Janeiro, 2022. Disponível em: https://www.museunacional.ufrj.br/destaques/relatorio_anual_2021.html.
  • SEREJO, Cristiana (ed.). Museu Nacional: Panorama dos Acervos: Passado, Presente e Futuro. Série Livro Digital; 18. Rio de Janeiro: Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2020.Disponível em: https://www.museunacional.ufrj.br/destaques/panorama_de_acervos.html.

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