Ana Carolina Nogueira [1]
Os museus, como instituições, têm testemunhado as transformações latentes da sociedade contemporânea. Nesse sentido, as demandas sociais, econômicas e ambientais têm permeado aqueles que, outrora, se configuraram como espaços de contemplação, conferindo a eles um lugar de representatividade e legitimação dos diversos segmentos das comunidades as quais refletem.
Para melhor compreensão deste processo, tomemos como referência a atualização do conceito utilizado pelo Conselho Internacional de Museus – ICOM, aprovada em agosto de 2022, após um longo processo colaborativo que envolveu profissionais do mundo todo.
“Um museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade, que pesquisa, coleciona, conserva, interpreta e expõe o patrimônio material e imaterial. Os museus, abertos ao público, acessíveis e inclusivos, fomentam a diversidade e a sustentabilidade. Os museus funcionam e comunicam ética, profissionalmente e, com a participação das comunidades, proporcionam experiências diversas para educação, fruição, reflexão e partilha de conhecimento”. [2]
O museu contemporâneo não está apenas aberto ao público, mas se declara como um ambiente acessível, inclusivo e diverso. Conferindo espaço de memória e reflexão aos múltiplos agentes sociais. Nessa vertente temos visto o amplo desenvolvimento da Museologia social, através da criação de museus de comunidades, museus de território, pontos de memória e museus virtuais. Onde os museus assumem um caráter plural e conferem lugar de fala e direito a representatividade aos povos indígenas, quilombolas, comunidades de periferia, LGBTQA+, pessoas com deficiência, entre outros.
É nesse contexto que questões afetas ao desenvolvimento sustentável passam a gradativamente ocupar os espaços museais. Seja como norteador de suas funções técnicas considerando o impacto ambiental de suas atividades, o uso de materiais biodegradáveis e o descarte consciente de resíduos. Seja através da adoção de estratégias de sustentabilidade econômica, ao estabelecer modelos de gestão que garantam a manutenção do próprio museu, além de desenvolver a comunidade do entorno.
Ademais, ao se declarar como espaços que “proporcionam experiências diversas para educação, fruição, reflexão e partilha de conhecimento”, os museus assumem sua responsabilidade como espaço de legitimação, projetando-se como espelho da sociedade a que se refere. E é nesse ambiente que a sustentabilidade em seus aspectos econômico, ambiental, social e cultural devem ser explorados, tendo em vista que o museu, como espaço de disseminação e multiplicação de informações, se utiliza de suas ferramentas de comunicação para estabelecer diálogos com seus usuários.
Através das exposições e ações educativas, principais ferramentas de interação entre museu e sociedade, torna-se possível estabelecer uma ponte entre o trabalho desenvolvido no museu e o público que almeja atingir. Considerando que a exposição é uma linguagem e o público intuitivamente sabe que essa é a linguagem dos museus (CURY, 2007, p.71), cabe ao museu desenvolver condições para a atração e acesso do público, sem, contudo, que haja perda de sua identidade e objetivos fundamentais.
A exposição apresenta-se como um mecanismo que dá voz ao museu, que, por sua vez, constrói seu discurso de maneira clara e compreensível para se comunicar diretamente com o visitante. Entende-se primordialmente que o museu fala, e quem ouve é o visitante; entretanto, a interação com a sociedade se faz pelo diálogo da educação. Sendo assim, espera-se que o público não apenas ouça mas interaja diretamente com o museu, respondendo, automaticamente, se os resultados têm sido satisfatórios quanto à proposta feita pelo museu, e principalmente a expectativa do público.
Marília Xavier Cury (2007, p.71-2) aponta três momentos que remetem à relação entre o emissor (o profissional de museus) e o receptor (o público). Sendo o primeiro modelo linear condutivista, onde o processo de comunicação parte do emissor para o receptor, ignorando seu grau de flexão, capacidade de mudança ou desenvolvimento; no segundo modelo, linear-circular, há a constatação da interpretação do público, contudo o emissor continua no controle da transmissão da mensagem; e o terceiro, o museu emergente, onde ocorre a interação entre instituição e o público em torno da negociação dos significados do patrimônio musealizado. O modelo de museu emergente, torna possível a instituição, uma reflexão sobre si mesmo e sobre seu papel na sociedade, obtendo assim um resultado positivo, uma vez que melhora o nível de conhecimento da sociedade e sua autopercepção.
Uma vez estabelecido o diálogo entre o visitante e o museu, é fundamental a interação destes num mesmo contexto, a fim de permitir a compreensão tanto de quem fala quanto do receptor. Proporcionando assim, ao “visitante uma experiência durável que se torne parte da vida daquele indivíduo”. Nessa perspectiva, a instituição se estabelece como agente de fomento ao desenvolvimento sociocultural.
[1] Museóloga - UNIRIO, Mestre em Preservação de Acervos de Ciência e Tecnologia - PPACT/MAST. Chefe do Museu Casa de Rui Barbosa. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
[2] Disponível em: http://www.icom.org.br/?page_id=2776. Acesso em 09/05/2023.
Referências Bibliográficas
- CURY, Marília Xavier. Exposição – uma linguagem densa, uma linguagem engenhosa. In: VALENTE, Maria Esther Alvarez (org.). Museus de Ciência e Tecnologia – interpretações e ações dirigidas ao público. Rio de Janeiro: MAST, 2007. p. 69-76
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