Primavera dos Museus 2019 menor

Bruna Cruz [1]

Primeiro museu aberto ao público no mundo, em 1793, o Louvre foi obrigado, recentemente, a fechar suas portas. O motivo: a imensa quantidade de visitantes não poderia ser comportada pelo mais visitado de todos os museus do mundo. Em 2018, um dos principais destinos de quem está em Paris superou a marca de 10 milhões de visitantes – em média, 27 mil pessoas por dia fizeram questão de conhecer seu acervo. Aqui no Brasil, um levantamento do site G1 com 40 museus brasileiros registrou um aumento de 50% na visitação nos primeiros seis meses de 2019, em relação à média no mesmo período dos quatro anos anteriores.

Em 2018, o país assistiu ao poder implacável das chamas que, por mais de seis horas, destruíram boa parte do Museu Nacional, no Rio de Janeiro. O sentimento de consternação e fragilidade do nosso patrimônio tomou conta dos brasileiros – inclusive, de boa parte daqueles que sequer o conheceram.

Em comum neste paralelo, o verbo que dá origem ao grande objetivo de todo e qualquer museu: conhecimento. Como num organismo vivo, o conhecimento é o coração de qualquer museu e o público, que absorve e propaga o que neles aprende, é essencial para que eles se mantenham vivos.

Recentemente, a pesquisa "Museus: narrativas para o futuro" mostrou que, entre os entrevistados, 55% tiveram seu primeiro contato com um museu na época escolar e que, para a metade deles, museu é um lugar que só precisa ser visitado uma vez – o que foi visto não muda.

Descortinar o véu que separa o público destas instituições é fundamental para que as pessoas compreendam que o papel dos museus está muito além de conservar e preservar a história. É ali, em cada um destes espaços, que se encontram as respostas para dilemas que ainda vamos enfrentar. É ali, em meio às pesquisas e estudos realizados por historiadores e museólogos, que estão os caminhos para a construção do futuro que queremos. É ali que o conhecimento se produz naturalmente, renovam-se significados, diferente do que pode parecer, deixa de ser algo restrito à elite.

Por isso, é preciso que todos – museólogos, historiadores, artistas, educadores e sociedade – se articulem em um movimento para que os acervos e pesquisas sejam melhor compreendidas pelo público em geral, deixando de lado o pensamento de que museus são apenas prédios históricos e cheio de "coisas velhas". Faz-se ainda mais urgente fomentar a discussão sobre o papel da educação na formação do olhar sob esses espaços e buscar o reforço de programas educativos que possam oferecer uma nova dinâmica de experiência.

Mais do que narrar o que já se passou, os museus contam as histórias do futuro de todos. É uma ferramenta que deve ser acessada, consumida, compartilhada porque é nela que está guardada a produção humana: sua tradição, cultura, ciência e tecnologia. De pinturas rupestres a protótipos de robótica. Cada museu nos conta uma história e nos dá noção do que está por vir. Afinal, o ser humano vive e precisa de histórias.


[1] Bruna Cruz é museóloga do Instituto Oi Futuro, no Rio de Janeiro.

 

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