Em junho de 2016, foi realizada a entrega da obra de restauração artística e arquitetônica da Igreja de São João Evangelista, na cidade histórica mineira de Tiradentes, acompanhada de Missa de Ação de Graças promovida pelo Instituto Histórico e Geográfico de Tiradentes.
A restauração dos elementos arquitetônicos e artísticos da construção religiosa teve início em 2013 e foi concluída em 2016 através de projeto executado pela empresa Anima Conservação Restauração e Artes, sob coordenação do restaurador Gilson Felipe. No restauro arquitetônico, pode-se destacar a substituição de grande parte do assoalho, em função do péssimo estado de conservação proveniente de um grande ataque de insetos xilófagos (cupins) e apodrecimento da estrutura, sendo ainda realizadas: a revisão de telhados e rebocos, a recuperação do entorno e a pintura geral. Em prol de possíveis riscos e danos, foi feita a substituição de toda a parte elétrica e do sistema de segurança da construção.
fachada da Igreja de São João Evangelista, Tiradentes, MG
Os elementos artísticos da igreja foram completamente restaurados à exceção do retábulo-mor, que recebeu tratamento apenas de conservação. O projeto contemplou os retábulos colaterais de Nossa Senhora das Dores, localizado do lado Evangelho, e de Nossa Senhora dos Remédios, do lado da Epístola, além do nicho da Capela do lado da Epístola, cimalhas da capela-mor e nave, arco-cruzeiro, púlpito, balaústres da nave e do coro, lustre e arcazes das sacristias.
Um detalhe observado durante a restauração foi a repintura do arcaz da sacristia (do lado da Epístola), o que levou à realização de prospecções e consequente remoção das camadas de repintura. O projeto incluiu ainda o restauro da banqueta do retábulo-mor, de todas as imagens sacras, telas da nave, frontal do retábulo-mor e confessionários. Nas prospecções realizadas nos retábulos colaterais foi verificado que a pintura original era realmente branca, e que apenas no último degrau do nicho do retábulo da epístola apresentava uma pintura no estilo rococó.
detalhe acima: situação com o ataque de insetos | foto maior: reconstituição da cimalha
Breve histórico e restauração da Igreja de São João Evangelista
A imagem do glorioso apóstolo São João Evangelista foi fundada na igreja da Matriz de Santo Antônio por volta de 1740 e lá funcionou até fins do século XVIII, no altar de Bom Jesus do Descendimento.
Ao longo da segunda metade do século XVIII foi sendo construída a capela própria na rua do Sol. Não há documentação de sua construção porque perderam-se os livros contábeis da época. Poucos nomes de operários constam nos livros de entrada de irmãos, como Cláudio Pereira Viana, que trabalhou na capela em 1782, 1788 e 1790.
Francisco José Lourenço, em 1783; Manoel Correa de Azevedo, em 1788; Leandro Gonçalves Chaves, em 1779, Hidiperso Rodrigues Heredia, em 1789; o pintor Francisco de Paula e Oliveira, em 1789, 1793, 1801 e 1807. Para a fundição do sino contribuíram Antônio Fernando do Amaral e Antônio Nogueira. Outros ainda contribuíram com seu trabalho como Manoel Francisco de Souza (1800-1802); Joaquim Antônio de Barros e Antônio Alves da Costa; José Dias Moreira (1799) e Antônio Joaquim Xavier (1832). Além da Irmandade de S. João, a capela abrigou a confraria de São Francisco de Assis dos pardos e a confraria de Nossa Senhora das Dores, fundada em 1801. Em 1784, a Irmandade obteve em Breve de Indulgência para os fiéis que rezassem as orações de quarenta horas no dia 25 de dezembro, na capela de São João Evangelista; breve este chegou ao bispado em 1794.
O sino da igreja foi fundido em 1786 com o relevo de uma águia com uma pena presa na pata sobre um livro, símbolo do apóstolo João e a inscrição "S Ioannes Evang. A. DNI MDCCLXXXVI" (São João Evangelista - Ano do Senhor 1786).
Limpeza de sujidades da imagem de São João Evangelista
A igreja tem planta em nave ampla, capela-mor mais estreita com sacristias e consistórios laterais e um salão.
A fachada apresenta frontão triangular com beirais de beira seveira, sendo o corpo central delimitado por cunhais, duas janelas a altura do coro, porta central e óculo no frontão. Dois puxados laterais apresentam seteiras e duas janelas, de vergas curvas e almofadadas.
A decoração interior é composta pelo retábulo do altar-mor, com talha de épocas diferentes, arco cruzeiro, retábulo de Nossa Senhora das Dores, retábulo de Nossa Senhora dos Remédios, um púlpito, balaustrada recortada e balaustrada no coro torneada. Apenas o retábulo das Dores em estilo rococó recebeu douramento parcial. As pinturas são constituídas por painel do forro da capela-mor, duas grandes telas nas laterais e os quatro evangelistas na nave.
A igreja passou por obra por volta de 1920/25, com a colaboração de Policarpo Rocha e possivelmente nessa época foi refeito o assoalho da capela-mor, eliminando os campas. Houve obras ainda em 1957 e 1962 quando se adaptou igreja para capela do Seminário e em 1977/78.
Em 2004, foi feita obra de conservação dos telhados com o apoio do Fundo Nacional de Cultura e do IPHAN.
Nas obras atuais, com apoio financeiro do BNDES, tendo como contratante o Instituto Histórico e Geográfico de Tiradentes, realizou-se a restauração arquitetônico, a restauração de telhados quando foram trocados madeiras e beirais, os forros, os assoalhos de todos os cômodos laterais e coro foram substituídos, assim como o da capela-mor que voltou com paginação de campas. O assoalho da nave foi meticulosamente restaurado, mantendo-se a madeira original. Todas as esquadrias de portas e janelas foram restauradas e/ou substituídas quando não aproveitáveis. A porta da frente teve as ombreiras substituídas.
Olinto Rodrigues dos Santos Filho
Pesquisador do IPHAN - Tiradentes, MG
Nivelamento da cimalha da nave e reconstituição de partes faltantes
Tombamento da Capela de São João Evangelista pelo IPHAN
Descrição: Face à inexistência de documentação, quase nada há sobre a construção da capela, sabendo-se apenas que a Irmandade de São João Evangelista dos Homens Pardos foi fundada por volta de 1740, na igreja matriz e funcionava no altar do Descendimento onde existe uma imagem de São João ao pé da cruz. Desta Irmandade só restaram os livros de termos de entrada de Irmãos. Parece que a Irmandade funcionou na matriz até o final do século XVIII, tendo a construção da capela própria se iniciado por volta de 1750/60, com recursos provenientes dos Irmãos. Na capela de São João Evangelista foi criada, em 1812, a Irmandade de São Francisco de Assis dos Pardos, que segundo parece, teve breve duração, e a confraria de Nossa Senhora das Dores, fundada por volta de 1816 ou 1817, que teria construído o altar colateral de Nossa Senhora das Dores e o oratório da sacristia, onde se guarda a imagem processional sob sua invocação. D. Frei José da SSm.ª Trindade, em seu relatório de visita pastoral de 1824, faz uma pequena descrição da capela, inferindo-se deste documento que o retábulo de Nossa Senhora das Dores foi refeito no primeiro quartel do século XIX e, que o de Nossa Senhora dos Remédios é posterior a 1824, uma vez que a descrição do referido retábulo por ele feita naquela ocasião, não corresponde ao atual que é semelhante ao de Nossa Senhora das Dores. Não há mais registros documentais sobre a igreja, a não ser referências de pequenas compras de objetos no início do século XX e pedidos de esmolas para reformas na igreja, em 1923. Parece que nesta época a Irmandade promoveu reformas no telhado, paredes e pintura. O assoalho da capela-mor deve ter sido reformado no mesmo período, com o desmonte das campas e colocação de tábuas estreitas formando losango em duas cores.
Detalhes da limpeza parcial da carnação da imagem de Nossa Senhora das Dores
Em 1961/62, a igreja passou por ampla restauração efetuada pelo IPHAN, para a instalação da capela do Seminário Diocesano São Tiago que funcionou na casa Padre Toledo, ao lado. Nesta época, as laterais foram transformadas em salas de aula, com substituição dos forros e assoalhos e a adaptação do antigo depósito de materiais de construção, ao fundo, para auditório, ocupado pelo Instituto Histórico e Geográfico desde 1979. Data deste período a dispersão do acervo da igreja. As velhas palmas e ornamentos tradicionais foram substituídos por objetos decorativos modernos, assim como móveis, alfaias e paramentos. Seguida da Matriz, a igreja de São João Evangelista é a maior igreja da cidade de Tiradentes. É toda construída em taipa de pilão, com grossas paredes, embasadas em socos de cantaria, com todos os vãos de verga curva, a exceção das quatro janelas abertas nos fundos da igreja, em 1962. Os beirais superiores da nave e capela-mor são de cachorros em grande balanço e os inferiores (laterais) e da frontaria são em beira-seveira. A planta obedece ao esquema comum em Minas, com nave retangular e capela-mor mais estreita, ladeadas por cômodos laterais e um grande salão por trás da capela-mor. A fachada principal é bastante simples, marcada por quatro cunhais largos, porta de verga curva encimada por duas janelas à altura do coro e óculo na empena, que é triangular, sem decoração, com arremates em beira-seveira. Dois corpos laterais completam a fachada, sendo que à esquerda se instalou o sino. Duas seteiras iluminam o acesso ao coro e sineira. A decoração interior conta com o retábulo do altar-mor, bastante alto, pintado de branco, com talha característica de pelo menos três épocas distintas, parecendo ter sido montado com talha de um retábulo mais antigo. Atrás tem inscrita a data de 1864. Os dois altares colaterais apresentam talha rococó, sendo o de Nossa Senhora das Dores dourado e branco, datável do primeiro quartel do século XIX, podendo-se atribuir sua autoria ao entalhador Salvador de Oliveira.
esq.: substituição do fundo do camarim. | dir.: confecção de novo altar
O retábulo fronteiro, de época posterior, assemelha-se ao de Nossa Senhora das Dores, embora de talha inferior. O arco-cruzeiro, de grandes proporções, é decorado com talha rococó de boa qualidade e é coberto por ampla sanefa policromada. O coro possui balaustrada torneada de gosto setecentista, assim como a mesa de comunhão em balaústres recortados típicos do século XIX. Na sacristia há um oratório de Nossa Senhora das Dores, cujo retábulo parece ter sido aproveitado de um Passo da Paixão, visto que é igual aos retábulos dos três Passos mais antigos. As duas portas transversais da nave são entalhadas ao gosto rococó. A pintura da igreja, provavelmente do mesmo autor, é de gosto popular em cores fortes. É constituída por medalhão. no forro da capela-mor, duas telas nas ilhargas, quatro painéis na nave, além das cimalhas marmorizadas. O conjunto de imaginária é certamente de um mesmo santeiro, devendo datar de fins do século XVIII ou início do XIX. É constituído por excelente escultura, com policromia ao gosto rococó. Cabe registrar o desaparecimento das imagens de Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora dos Remédios, três castiçais e uma cruz, ocorrido em dezembro de 1994, ainda não recuperados.
Obs: A edificação religiosa foi tombada pelo IPHAN em 27 de janeiro de 1974, no Livro de Belas Artes, inscrição nº 478. Processo Nº:0066-T-38.
Fonte: http://portal.iphan.gov.br/ans.net/tema_consulta.asp?Linha=tc_belas.gif&Cod=1453 . Acesso em 03.06.2016.
Instituto Histórico e Geográfico de Tiradentes (IHGT)
- Criado em 19 de janeiro de 1977
- Declarado de utilidade pública municipal através da Lei nº 374, de 15/12/1977
- Declarado de utilidade pública estadual através da Lei nº 11.764, de 17/1/1993
- Objetivos: Estudar a história local, proteger o patrimônio histórico, artístico, paisagístico, arqueológico, geográfico e cultural da região do Rio das Mortes.
- Funciona em sala do Sobrado Ramalho, imóvel pertencente ao IPHAN, localizado no centro de Tiradentes.
Histórico do patrocínio pelo BNDES em Tiradentes (MG)
- Restauração estrutural da Igreja Matriz de Santo Antônio
- Museu Casa do Padre Toledo
- Implantação do Museu da Liturgia
- Restauração da Igreja de São João Evangelista
As imagens foram gentilmente cedidas pela empresa Anima Conservação Restauração e Artes Ltda.
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